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Segunda profissão vira salvação de trabalhadores para enfrentar a crise de empregos

Para especialistas, se dividir entre ocupações é uma tendência, enquanto informalidade avança

Mesmo em dias de folga, a manicure Vanda encara mais de 60 quilômetros entre o município de Queimados, na Baixada, e Copacabana, na Zona Sul, para trabalhar como faxineira - Fernanda Dias

 

RIO - Moradora de Botafogo, na Zona Sul, Maria de Fátima Ribeiro não consegue mais pagar suas contas apenas com o salário de manicure. Para complementar a renda, nos dois dias de folga, ela se dedica a uma segunda ocupação: office girl. Este é um reflexo das recentes mudanças no cenário econômico do Brasil e, segundo especialistas, é uma tendência.

Somando o valor do aluguel às despesas com alimentação, vestuário, transporte, entre outras, Fátima gasta R$ 2 mil por mês. Pouco mais da metade dessa quantia vem do salão onde trabalha com carteira assinada, em Copacabana. "Faço isso para me manter. Busco exames para idosos, os acompanho em consultas e passeios pela orla, entrego documentos. Se não ofender minha dignidade, topo tudo", diz. De quarta a sábado, Fátima está no salão. Às segundas e terças ela roda as ruas da cidade em sua segunda atividade. Aos domingos, cuida da casa e passa um tempo ao lado do marido, que está desempregado. "Quando vejo que toda essa roubalheira será paga por nós trabalhadores, me sinto injustiçada. Está tudo muito caro. Os governantes não querem saber do povo e jogam a conta para nós", completa Fátima.

BENDITO HOBBY

Demitido há alguns meses, Rogério Cortes viu no antigo hobby a luz no fim do túnel. Enquanto não recebe a resposta de um processo seletivo na área de telemarketing, oferece aulas de guitarra. Para cada hora, o agora instrutor cobra R$ 25. "Descobri que tenho a capacidade de ensinar. Dou uma aula 'express', onde o aprendizado rápido é garantido", diz. Apesar de contar com dez alunos, Rogério também buscou outra atividade. Com o serviço de manutenção de computadores, ele complementa a renda. O professor diz se sentir decepcionado com o atual momento do país. "É muita falcatrua. A gente não tem plano de saúde, não tem casa própria, não tem emprego. Há poucos dias tivemos a polêmica do combustível. No fim, é mais uma conta para a população pagar", reclama.

De acordo com o economista Gilberto Braga, a fuga para uma segunda ocupação é uma realidade que pode ter vindo para ficar. "A crise, junto com as mudanças comportamentais, levou o mercado de trabalho a ter uma nova feição. Com o achatamento dos salários e o desemprego, as pessoas acabam aceitando funções inferiores às que tinham anteriormente. Uma das saídas é o negócio próprio, que quando não é fruto de um sonho antigo, é um hobby que virou a solução dos problemas", diz.

EFEITOS NA SAÚDE

Para a psicóloga Juliana Sato, o acúmulo de atividades por um período elevado de tempo pode acarretar em problemas graves para a saúde em geral. "A saúde mental é subjetiva. Por não vermos as consequências de tanto esforço diário, acreditamos que está tudo bem. Insônia, estresse, ansiedade e depressão são alguns sinais de que é preciso reduzir a jornada", diz.

Apesar dos riscos, Vanderlucia Mariana da Silva, que trabalha há mais de 60 quilômetros de distância de sua casa, em Queimados, na Baixada Fluminense, não pretende reduzir a carga de trabalho. Há alguns meses, Vanda como é conhecida abriu mão da carteira assinada para trabalhar informalmente como manicure, em uma das principais avenidas de Copacabana. Para ela, o salão funciona como uma espécie de ponte para a conseguir a renda extra. "Às segundas-feiras, dias em que na teoria estaria de folga, volto à Zona Sul para dar faxina na casa de clientes do salão. Está valendo à pena, apesar de ser cansativo", afirma Vanda.

Trabalhadores informais ganham menos hoje do que 4 anos atrás

Com bases na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada na última semana pelo IBGE -, a consultoria LCA, especializada em Economia, fez um levantamento voltado para o trabalhador informal. Considerando a inflação, a conclusão é que hoje, essa parcela da população ganha 10% menos do que ganhava em 2014, quando teve início a crise econômica. O rendimento real caiu para todas as faixas etárias de trabalhadores que estavam fora do mercado formal, quando fazemos a comparação com o primeiro trimestre daquele ano.

"No mercado informal, atividades como manutenção de equipamentos, vendas de alimentos e prestação de serviços ligados ao setor de beleza estão em crescimento. Um dos motivos é o baixo custo de investimento. Apesar disso, não significa que esses trabalhadores estão ganhando mais", explica o economista Gilberto Braga.

Outro dado recém-divulgado pelo IBGE é a queda no índice de desemprego no Brasil, que recuou de 13,1% de janeiro a março para 12,9%, no trimestre encerrado em abril. Esta foi a primeira queda do desemprego após três altas seguidas. Apesar de ser uma boa notícia, o Rio de Janeiro aparece com os piores índices em toda a Região Sudeste, com crescimento de 15% da taxa de desemprego, em relação ao período anterior.

Fonte: O Dia
18/06/2018

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